Filme sobre mudanças causadas por hidrelétrica ouve professor da UEM

"Barragens Entre Nós", um documentário longa-metragem filmado em três estados banhados pelo Rio Paraná, com a participação do professor Angelo Antonio Agostinho, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), terá pré-lançamento neste sábado (3), na Casa da Cultura em Primavera, município de Rosana, São Paulo.

Produzido pelo professor Luiz Fernando Neves, do curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rosana, e dirigido por Rodrigo Guim, o filme narra a história da região do Pontal do Paranapanema por meio das vozes de seus moradores, pesquisadores e testemunhas das muitas mudanças ocorridas na região.

As filmagens ocorreram em diversas localidades, incluindo a cidade de Maringá. Também foram palco das gravações as cidades de Primavera, Rosana (abrangendo o Assentamento Gleba XV de Novembro), Presidente Prudente e São Paulo; além de Nova Porto XV, Brasilândia e Campo Grande (Mato Grosso do Sul). Ao todo, foram captadas mais de 50 horas de depoimentos e narrativas dos personagens que dão vida a essa história.

“Uma vila construída onde um dia havia uma vasta floresta, uma barragem erguida sobre um rio caudaloso, e a narrativa do progresso com suas contradições socioculturais e ambientais. ‘Barragens Entre Nós’ relata a história de um Brasil conhecido como "barrageiro", contada por aqueles que construíram barragens, cidades e assentamentos, bem como por aqueles que ainda protestam por serem ignorados”, detalha a sinopse do documentário.

Para Neves, o filme é resultado da vivência dele como professor do curso de Turismo da Unesp em Rosana. “Ao me mudar para Primavera, fiz amizade com Nadabi Mendes, poeta e roteirista do filme, e Lu Fernando Neves, produtor. Começamos a filmar após alguns meses, mas pausamos para amadurecer o conhecimento sobre o Pontal do Paranapanema e contar essa história complexa e rica do Brasil. Após 20 anos, aqui estamos com o filme pronto, produzido pela ONG que criamos para ações culturais e ambientais em Rosana”, esclarece.

Segundo ele, o documentário, ao abordar a construção da Usina Hidrelétrica de Porto Primavera e da cidade de Primavera, explorando a ocupação do Pontal do Paranapanema e os impactos em ribeirinhos, pescadores, indígenas, barrageiros e assentamentos rurais, fala das transformações do Pontal. Trata, ainda, a realidade atual das pessoas que viviam às margens do Rio Paraná no Mato Grosso do Sul, que sofreram relocação e a destruição ambiental.

Conforme o professor, o desafio era como contar uma história em que muitos foram felizes e tiveram uma boa vida numa cidade, enquanto outros sofreram várias barragens nas suas vidas.

Depoimento 

“Nossa participação no documentário ‘Barragem Entre Nós’ esteve relacionada às mudanças impostas pelos reservatórios à biota (conjunto de todos seres vivos de um determinado ambiente) ao remanescente de rio que ainda não está represado, entre Porto Primavera e Itaipu, com destaque aos peixes migradores que sustentam as pescas artesanal e esportiva nessa região”, explica Angelo Agostinho (foto). 

De acordo com ele, “esse trecho livre tem seus estoques de peixes monitorados durante as últimas décadas pela UEM (Nupélia/Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura), PEA/Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais, e PELD - Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração/CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). As mudanças discutidas foram associadas à regulação das cheias, à retenção de nutrientes e sedimentos e ao bloqueio parcial à passagem de peixes e de ovos e larvas através da barragem (subida e decida)”.

Pesquisador sênior, Angelo Agostinho é professor do PEA, da UEM, que, em setembro de 2022, conquistou a nota máxima 7 atribuída pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), de excelência em nível internacional, fato inédito na história da universidade.

O PEA foi criado em 1991, após a integração do trabalho desenvolvido por pesquisadores ligados ao Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (Nupélia) com cientistas ligados ao Grupo de Estudos Multidisciplinares do Ambiente (GEMA). Agostinho se destacou, em março deste ano, pelo ranking internacional Alper-Doger Scientific Index, como o melhor pesquisador da UEM.

Graduado em Ciências Biológicas, tem mestrado em Zoologia e doutorado em Ecologia e Recursos Naturais. Alcançou o título de Pesquisador Sênior por recomendação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Recebe a honraria pesquisador que se destaca entre seus pares como líder e paradigma na sua área de atuação, valorizando sua produção científica e/ou tecnológica.

“Emoções, afetos...”

Na avaliação da professora Daniela Almeida Duarte, do Departamento de Psicologia (DPI) da UEM, as histórias dos barrageiros e das pessoas que sofreram o impacto das barragens estão repletas de emoções, afetos, e muita coisa ainda precisa ser escutada e acolhida por meio do testemunho das pessoas.

Docente ligada à área do trabalho no DPI, ela pesquisa o assunto desde o curso de mestrado, pela Unesp, para em seguida continuar estudando o tema no doutorado, também pela mesma universidade. 

“No doutorado eu tive a oportunidade de ouvir pessoas que moraram nessa região. No mestrado, eu ouvi as experiências dos barrageiros. No doutorado, ouvi os barrageiros e as famílias deles, o que era viver e trabalhar nessa condição marcada por inúmeras transformações no Brasil: época da Cesp, mas, depois, da privatização, das demissões, da pejotização e da precarização”, explica a professora, que também dá aulas para o Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPI) da UEM.

Companhia Enérgica de São Paulo, a Cesp foi uma empresa estatal que, em 2018, foi privatizada e o consórcio São Paulo Energia, formado entre as empresas Votorantim Energia e o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB), arrematou o controle acionário do governo paulista pelo valor de R$ 1,7 bilhão.

A dissertação de Duarte, no mestrado em Psicologia, concluído em 2009, teve como título “A migração laboral no setor de produção de energia hidrelétrica: efeitos na subjetividade dos trabalhadores na contemporaneidade”. A tese, no doutorado também em Psicologia, defendida em 2014, foi intitulada “(DES) ENCONTROS TRABALHO-FAMÍLIA: narrativas de familiares de trabalhadores migrantes do setor de produção de energia hidrelétrica”.

“O doutorado virou um livro e na pandemia organizamos outro livro, com diferentes áreas de pesquisa e pessoas, também buscando ampliar o impacto das barragens de usina hidrelétrica e de rejeitos, dando foco na dimensão psicossocial”, afirma.

Filha de barrageiro, a professora tem muitas lembranças desse universo, onde, em casa, quando o pai era empregado, se recorda do ambiente de estabilidade, as vilas, os clubes e as associações. Mas, também possui a memória marcada pelo que ela se refere à hostil privatização e o desemprego do pai, bem no ano que ela passou no vestibular para a universidade.

No entendimento dela, “conhecer essas histórias e ter acesso a esse segmento profissional, bem como o desdobramento social, local e comunitário, é muito importante para conhecer a história do Brasil, plantada na fonte de energia hidrelétrica.

Pré-lançamento

O pré-lançamento de “Barragem entre nós” contará com duas sessões exclusivas. A primeira será às18h, exclusiva para convidados que participaram do filme e seus acompanhantes. Após a exibição do documentário, haverá discussão temática com o diretor Rodrigo Guim.

A segunda sessão ocorrerá às 20h30, aberta ao público de forma gratuita. Os ingressos serão distribuídos no local por ordem de chegada.

Ficha Técnica

Título: Barragens Entre Nós

Direção: Rodrigo Guim

Produção Executiva: Marcello Souza Pires

Fotografia e Montagem: Rafael Rydlewski

Roteiro: Rodrigo Guim e Joabinadabe Gomes Mendes

Produção e Design: Lu Fernando Neves

Produção: Instituto ISCAP

Realização: Programa de Ação Cultural, através da Secretaria de Estado da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Governo de São Paulo.

Assista ao trailer: