Há 38 anos, Condomínio do Conjunto Habitacional Maurício Schulman mudou o cenário das proximidades do campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Imponente com seus 480 apartamentos, distribuídos em 15 edifícios, os “blocos de letras”, quase quatro décadas depois, mantém-se como o maior conjunto habitacional vertical da cidade. As unidades são habitadas por cerca de 2,3 mil pessoas; o correspondente a 9% da população residente no bairro. Uma cidade dentro da Cidade Canção.
A origem do apelido, “blocos de letras”, e o autor dele são desconhecidos. Fácil é descobrir, porque o residencial ganhou a “alcunha”. A identificação dos edifícios é feita por letras, do “A” ao “O”. Outra característica peculiar são as fachadas em tijolo a vista; estilo arquitetônico que, aliado à proximidade com o campus universitário, faz muita gente acreditar que o conjunto é parte integrante da UEM.
Fora o concreto e o acabamento, a essência do espaço são mesmo as pessoas que lá vivem. Dona Inês, 79 anos, que na certidão de nascimento se chama Antônia Sanches Ferreira, “Inês é de batismo”, justifica, mudou-se para o apartamento do bloco “D”, onde vive até hoje, em outubro de 1979. “Era tudo diferente. Convivíamos com bois, que passeavam ali no estacionamento”, recorda.
De porteiro a síndico
Aparecido Alves, 48, o Cido, chegou em 1991. Também mora no mesmo apartamento até hoje. Nestes 23 anos, ele se formou em Administração, casou-se e teve dois filhos. Uma curiosidade é que, recém-formado e desempregado, ele trabalhou, durante cinco anos, como um dos porteiros do Condomínio. Na época a secretário o questionou: “Você tem graduação, vai querer trabalhar aqui?”. Ele encarou o emprego com naturalidade.
Hoje, Cido é o “prefeito” dos “blocos de letras”. Assumiu o cargo de síndico no ano passado. Foi eleito por 133 votos. Com a vitória, deixou o emprego para se dedicar, integralmente, ao mandato de dois anos. Ela dá expediente de segunda a sexta-feira, das oito às 17 horas. “É muito trabalho”, alega. Ele cita que são 34 funcionários registrados, 18 deles se revezam nas cinco portarias do Condomínio, 24 horas por dia.
O acadêmico de Direito, Murilo Augusto Lima de Angeli, 20, mudou-se para o residencial há cinco meses. À procura de um salário que permitisse pagar as despesas mensais, segue trajetória semelhante à de Cido. “Vi no emprego de porteiro, a oportunidade de conciliar meus estudos com as minhas necessidades financeiras”, destaca.
Se pretende ser síndico um dia? Só a história dirá. A preocupação
atual dele é aproveitar a vantagem de morar a seis passos do serviço e
ser reconhecido por nunca chegar atrasado ao posto de trabalho.
Além-mar
Os “blocos de letras” abrigam também pessoas do além-mar. O moçambicano Pedro Manuel Napido, 40, cujo significado do sobrenome é “caminho a ser seguido”, desembarcou no Brasil no dia 28 de fevereiro deste ano. Ele, que, pela primeira vez, deixou o continente africano, divide o apartamento com dois amigos, conterrâneos.
De professor na terra natal dele, ele se tornou estudante da UEM. O objetivo é voltar para casa com o doutorado em Letras, que veio fazer.
http://www.odiario.com/cidades/noticia/818425/blocos-da-uem-a-cidade-das-letras/