Poucos sabem, mas o Novo Centro de Maringá poderia ter uma cara bem diferente. Em 1985 o arquiteto Oscar Niemeyer formulou um projeto batizado de "Ágora", que previa, entre as avenidas São Paulo e Paraná, um calçadão, jardins e três superquadras com torres futuistas de 40 andares, preservando a Estação Ferroviária. A proposta iria incorporar uma área de 206,6 mil m², que era utilizada como pátio de manobra da rede ferroviária.
Niemeyer foi convidado a realizar o projeto por Ricardo Barros, que na época era engenheiro civil contratado pela Prefeitura. Em entrevista aO Diário, em 2009, Said Ferreira (prefeito em 1985) afirmou que não foi por falta de dinheiro que as ideias do arquiteto deixaram de se concretizar.
"O projeto não me agradou. Era muito bonito, mas não resolvia os problemas do trânsito, muito pelo contrário", disse Ferreira, que governou o município em duas ocasiões – entre 1983 e 1988 e entre 1993 e 1996.
O ex-prefeito conta que na época, a incorporação do pátio de manobras da rede ferroviária era um dos mais gritantes problemas urbanos de Maringá. Para resolver a situação, ele procurou pessoalmente por Niemeyer, em seu escritório, no Rio de Janeiro. "Ele nos apresentou um projeto que continha torres, onde funcionariam hotéis, além de jardins. Mas no meio dele passaria a linha férrea, numa espécie de vala, o que me pareceu inviável", declarou Ferreira.
Tanto o prefeito como os técnicos da então recém-fundada Urbanização de Maringá S/A (Urbamar) avaliaram, na época, que o Projeto Ágora traria riscos para os pedestres e motoristas que passassem pelo local. "Buscamos outros projeto, da empresa paulistana Prix, e acredito que tenha sido a melhor escolha", avalia Ferreira.
Projeto previa, entre as avenidas São Paulo e Paraná, um calçadão, jardins e três superquadras com torres futuistas de 40 andares
O projeto foi revisto pela primeira vez em 1990, na administração de Ricardo Barros, no entanto, não foi colocado em prática por seu sucessor, Said, quando assumiu seu segundo mandato.
"Após inúmeras modificações, o resultado do Projeto Ágora foi a retirada do pátio de manobras e da linha férrea da superfície, o prolongamento das avenidas Herval e Duque de Caxias e o loteamento das duas quadras para a venda ao mercado imobiliário. De área pública, o que restou foi uma quadra central, sem nenhum tipo de uso e equipamentos", diz um artigo científico da pesquisadora Fabíola Castelo de Souza Cordovil, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Segundo a arquiteta, a linha férrea, ponto fundamental na urbanização da área, foi alocada num túnel, que atualmente passa por baixo da Avenida Horácio Racanello. O grande espaço público evocado pelo nome original do projeto (ágora, em grego, significa praça) deu espaço à iniciativa privada e à especulação imobiliária, que cobriu o Novo Centro com grandes prédios residenciais e salas comerciais.
"O espaço público, que inicialmente teve a alcunha de Ágora, hoje se reduz a uma praça inóspita e sem vida onde há apenas um elemento que nada contribui para uma efetiva referência para a cidade", comentou, em entrevista a O Diário em 2009, Fabíola Castelo.