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Desmonte da educação e a defesa do conhecimento deram a tônica dos discursos; veja galeria de fotos

No retorno ao ginásio de esportes Chico Neto após 14 anos, nesta na sexta-feira (1º), a sessão solene de colação de grau da Universidade Estadual de Maringá (UEM), 1ª após a pandemia da Covid, lotou as arquibancadas para a entrega de diplomas para 686 graduados de 2021 na segunda e última noite de cerimônia do câmpus sede.

Além da alegria que tomou conta de familiares, parentes e amigos dos formandos, o evento foi marcado por momentos de fortes emoções, como a recepção calorosa do público ao paraninfo geral, Henrique Leal Perez, que é cadeirante e adentrou a quadra pelo térreo do ginásio. Também teve a entrega recorde, em uma sessão presencial, de 67 láureas para recém-formados de 10 cursos por terem obtido nota nove ou superior em ao menos dois terços da graduação.

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O paraninfo geral, Henrique Leal Perez, entrando na quadra para a solenidade

Colaram grau estudantes que concluíram cursos ligados aos Centros de Ciências Agrárias (CCA); Exatas (CCE); Humanas, Letras e Artes (CCH); e de Ciências da Saúde (CCS). Transmitida pela UEM TV por meio do canal da emissora no Youtube, a solenidade, com a participação especial da Orquestra de Câmara da universidade, contou mais uma vez com a adoção de orientações sanitárias como parte de um conjunto de medidas para o enfrentamento à Covid. O mesmo plano de contingência e biossegurança será estendido às colações de grau nos câmpus regionais.

Ao discursar em nome dos formandos, Kelly Silva Salgado, do curso de Artes Visuais, relembrou as dificuldades de sobrevivência enfrentadas pela comunidade estudantil mais carente, além de lamentar a situação de penúria pela qual atravessa a UEM e as instituições públicas de ensino superior brasileiras. 

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Kelly Silva Salgado, oradora geral

A oradora geral criticou o corte de verbas, a ausência de espaço físico adequado e a falta de professores como alguns dos principais sintomas da precarização. A graduação em Artes Visuais, por exemplo, tem apenas quatro professores efetivos. 

Kelly agradeceu os servidores da instituição que, segundo ela, apesar destas adversidades, deram total apoio aos estudantes. O certificado recebido naquela noite carrega, no entendimento dela, um contexto histórico devastador, que foi o período das aulas remotas, em que as dificuldades para se adaptar às mudanças se somaram às mortes causadas pelo novo Coronavírus.

Ao encerrar a fala, enalteceu o potencial da UEM como a maior instituição de educação superior das Américas e do Hemisfério Sul com pesquisas desenvolvidas por mulheres, mais o fato de contar, desde 2019, com cotas raciais nos processos seletivos de ingresso na graduação. A oradora diz sentir orgulho de ter estudado em uma universidade pública e causou comoção na plateia, arrancando muitos aplausos, ao revelar que está grávida de uma menina.

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Isabela Cristine Torres de Souza, de Artes Cênicas, foi a juramentista

Como na noite de quinta-feira, o vice-reitor Ricardo Dias Silva destacou a capacidade de superação da UEM em contornar os obstáculos e entregar à sociedade novos profissionais imbuídos de conhecimento, capazes de fazer a diferença no mundo. Ele citou algumas conquistas recentes e preconizou que haveremos de vencer as dificuldades por meio da informação e da luta.

O papel da UEM durante a fase mais difícil da pandemia também ganhou destaque no discurso de Silva, para quem o conhecimento é que permitirá a transformação de nossas vidas. Lamentou que somente cerca de 18% dos jovens brasileiros com 18 a 24 anos estejam fazendo o ensino superior, quando o ideal seria ao menos 33%. Neste contexto, além de falar nos ataques que a universidade pública vem sofrendo fez uma saudação à memória de Darcy Ribeiro, criador da Universidade de Brasília (UnB), lembrando que o ex-ministro da Educação costumava dizer que a precarização do sistema público de ensino brasileiro é um projeto e não obra do acaso.

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Músicos da Orquestra de Câmara da UEM

O vice-reitor ainda criticou a proposta de cobrança de mensalidades na educação pública superior, afirmando que este caminho não é a solução, pois causaria muita evasão. Traçou uma perspectiva ruim com a vigência da Lei Geral das Universidades (LGU) e, além de enumerar as situações que comprovam a presença diária da UEM na vida das pessoas, defendeu o avanço em algumas políticas públicas como maneira de contornar a crise na educação pública, sugeriu aos recém formados usar o conhecimento e o amor para vencer a ignorância e o ódio, e destacou o fato de a UEM ser também uma instituição dos indígenas, pretos, pardos, LGBTQIAP+ e cotistas.

O reitor Júlio César Damasceno enalteceu o potencial humanístico dos futuros profissionais, a quem a sociedade deposita a esperança de um futuro melhor. Traçou um histórico de consolidação da UEM e também lamentou o modelo de sociedade auto-destrutiva vigente em grande parte do País. 

Para ele, um dos grandes aprendizados da comunidade estudantil na universidade é que não basta ter vontade e atitude, é preciso ter método. 

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O ginásio Chico Neto ficou lotado para a cerimônia

Damasceno destinou a parte final do discurso para destacar a atuação exemplar dos profissionais de saúde da UEM no enfrentamento à Covid. Muitos dos quais, conforme ele, colocaram a própria vida em risco para salvar outras pessoas. 

O paraninfo geral transmitiu uma mensagem de esperança, defendendo a ética e a integridade moral como pilares de uma vida e carreira de sucesso e felicidade. Henrique Leal Perez ficou paraplégico há 20 anos, no início do curso de Zootecnia, quando, confessou, sentir medo. Segundo ele, naquela época muitas pessoas o desencorajou a seguir a graduação, insinuando que Perez não teria mais condições devido às limitações físicas.

Por isso, convocou a todos os neograduados a encararem o medo “com amor, caráter e empatia ao próximo”. De acordo com o paraninfo, “do lado de fora existe um mundo faminto de novas ideias e lideranças”. Por isso, recomendou, “sejam prestativos e antenados nas novas tendências tecnológicas”.

“Vocês estão se formando numa das melhores universidades do mundo”, disse Perez, que ainda se recordou dos desafios impostos pela Covid, dizendo que esta colação de grau “terá no currículo a experiência do ensino remoto”.

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O paraninfo recebeu placa da UEM entregue pela neograduada Giulia Lopes Viegas da Silva, de Letras

Com a cerimônia de sexta-feira, a UEM passa a ter 79.634 profissionais com diplomas de graduação emitidos pela instituição em 52 anos de existência, sem contar os mais de 20 mil títulos de mestrado e doutorado também expedidos pela universidade. 

Técnico em Agropecuária pelo colégio Técnico Agrícola da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Câmpus de Jaboticabal), Perez se graduou em Zootecnia pela Universidade São Marcos, fez mestrado e doutorado em Zootecnia pela Unesp em Jaboticabal, e realizou estágio sanduíche na Massey University (Nova Zelândia).

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A kaingang Elvira Nivagtanh Crespim se formou em Pedagogia

Prestigiada por autoridades dos poderes executivo e legislativo municipal e estadual, além de autoridades militares, líderes indígenas e representantes da sociedade civil organizada, a sessão solene, presidida pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEP) da UEM, reuniu a diretora e o diretor-adjunto do CCA, professora Adriana Aparecida Pinto e professor Carlos Alberto de Bastos Andrade, respectivamente; a diretora e a diretora-adjunta do CCE, professoras Lilian Akemi Kato e Fernanda Andreia Rosa; o diretor e a diretora-adjunta do CCH, professor Geovanio Edervaldo Rossato e a professora Nilza Sanches Tessaro Leonardo; e o diretor e a diretora-adjunta do CCS, professor Miguel Machinski Junior e a professora Priscila Garcia Marques.