Mais de 30 mil pessoas receberam apoio clínico e psicológico por meio de aplicativo desenvolvido pelo governo do Estado
A Universidade Estadual de Maringá (UEM), o governo do Paraná e as outras Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES) comemoram essa semana o “aniversário” da criação do Saúde Online PR. Trata-se de uma plataforma inovadora, que utiliza inteligência artificial para conectar pacientes e profissionais da saúde de forma personalizada e eficiente. Nos últimos doze meses, o sistema de telemedicina auxiliou no enfrentamento à Covid-19.
A solução tecnológica foi desenvolvida em duas fases. A partir de uma demanda da Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), a Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar) criou, primeiramente, o aplicativo Telemedicina PR. “Atualmente, na nova fase do projeto, a tecnologia foi substituída pelo Saúde Online PR, com novas funcionalidades e possibilidade de acompanhamento clínico dos pacientes. A iniciativa conta com o apoio da Secretaria de Estado da Saúde e dos conselhos regionais de Medicina e de Psicologia do Paraná”, explicou o responsável pelo projeto na Seti, Marcos Aurelio Pelegrina.
O serviço pode ser acessado de qualquer localidade paranaense. Está disponível para ser baixado nos sistemas Android e IOS. “O objetivo é contribuir com a proteção dos profissionais de saúde e com o Distanciamento Social Ampliado (DAS), em conformidade com as recomendações das autoridades sanitárias do Sistema Único de Saúde, o SUS, e da Organização Mundial da Saúde, a OMS”, informou o assessor da Seti (foto abaixo).
O projeto – A coordenadora do Saúde Online PR, docente do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Daniela Frizon Alfieri (foto acima), contou que o Sistema foi disponibilizado à população no dia 14 de abril de 2020. Em maio de 2020, a UEL assumiu a coordenação da ação com auxílio e participação de alunos e professores das sete IEES do Paraná, incluindo a UEM.
“O serviço do governo do Paraná tinha e tem como objetivo agilizar o atendimento à população, ajudar a desafogar as unidades de saúde, evitar aglomerações e deslocamentos de pessoas, proteger os profissionais de saúde, além de possibilitar que o cidadão possa ser consultado diretamente de sua casa, todos os dias da semana”, explicou a coordenadora.
Atualmente, participam do atendimento sete alunos de graduação dos cursos de Medicina ou Enfermagem de diferentes IEES do Paraná; dez médicos bolsistas sem vínculo com as universidades; oito enfermeiros, sendo sete docentes universitários (UEM, UEPG, UENP); três psicólogos bolsistas e dez psicólogos voluntários, de diferentes locais do Estado, que não possuem vínculo com as universidades; além de dois coordenadores, a professora Daniela e o professor Cristiano Tashima, da UENP.
Para a coordenadora Daniela, a telessaúde tem contribuído positivamente para o controle da pandemia, já que evita que os pacientes com quadro leve saiam do isolamento para procurar atendimento presencial. Dessa maneira, as pessoas se preservam das possibilidades de contaminação no transporte público e nos próprios estabelecimentos de saúde. “Além disso, casos confirmados ou suspeitos da Covid-19 podem permanecer em isolamento em suas casas e diminuir a circulação do vírus. Por fim, também é interessante observar que os atendimentos remotos podem ajudar a diminuir a pressão nos sistemas de saúde, um dos principais pontos de preocupação dos gestores”, acrescentou a professora da UEL.
Dinâmica – Desde o início do projeto, foram realizados 30.487 atendimentos: 14.037 consultas médicas; 1.022 acolhimentos psicológicos; e 4.598 consultas de enfermagem. Esse total inclui o primeiro contato e todos os atendimentos do paciente.
A dinâmica funciona da seguinte maneira: a pessoa se cadastra no aplicativo e marca uma consulta clínica ou psicológica. Os atendimentos médicos e de enfermagem são para os pacientes suspeitos ou confirmados de Covid-19, além dos indivíduos que tiveram contato com caso confirmado. Já o atendimento psicológico é para qualquer cidadão, independente da presença de sintomas da doença. Ao realizar a consulta clínica, automaticamente, o paciente entra em uma lista e é procurado sistematicamente por acadêmicos de enfermagem e de medicina para um acompanhamento, até a alta, caso seja confirmada a infecção pela Covid-19.
“Trata-se de um projeto inovador no Estado que contribui para a formação de uma equipe multidisciplinar que propicia ações assertivas para os pacientes e para a formação dos alunos. Embora a telessaúde tenha surgido há algumas décadas, foi com a pandemia que ela ganhou reconhecimento, tanto dos pacientes como dos profissionais de saúde. O projeto aproximou alunos-profissionais de saúde-pacientes e deixará um legado importante no Paraná”, garantiu a professora Daniela.
Nova estratégia – Andressa Martins Dias Ferreira, docente da UEM, começou no projeto há um ano como orientadora de bolsistas, ou seja, acompanhando e tirando dúvidas da equipe da linha de frente. Atualmente, participa da iniciativa realizando teleatendimentos de enfermagem e é uma das profissionais de referência para os bolsistas, em caso de dúvidas relacionadas ao atendimento.
Para a enfermeira, diante da necessidade de distanciamento social, é muito importante ofertar outros meios de acesso a serviços de saúde com segurança, de forma gratuita e com uma equipe multiprofissional, formada por médico, enfermeiro e psicólogo. Esses profissionais, segundo ela, vêm se capacitando para atender de forma remota aos casos suspeitos e confirmados de Covid-19, assim como os alunos estão a conquistar novos conhecimentos e a desenvolver novas competências durante a atuação no Projeto.
“Antes mesmo da pandemia, eu já desenvolvia pesquisas e tinha interesse por tecnologia em saúde e métodos inovadores de prestar assistência de qualidade. Com a chegada da Covid-19, o teleatendimento se tornou uma realidade rapidamente e foi necessário que a área de saúde se adaptasse e se atualizasse para este novo processo. E, em vistas dos resultados positivos obtidos até o momento, acredito que, mesmo na pós-pandemia, a telemedicina e a telessaúde (processo mais amplo de atenção à saúde mediado pela tecnologia) ainda continuarão a crescer, terão legislação específica, bem como serão aplicadas nos mais diferentes contextos, para os mais diversos problemas e, até mesmo, utilizadas na promoção de bons hábitos de vida e prevenção de doenças”, prevê a professora.
Equipe – O médico bolsista do projeto, Joubert Artifon Silva, que atua desde maio de 2020 nos atendimentos, disse que o serviço tem demonstrado ótima recepção por parte da população e que, em geral, os pacientes têm manifestado essa satisfação e indicado para familiares e conhecidos. Também é uma oportunidade de conhecer melhor as diversas manifestações da Covid-19 e de correlacionar dados clínicos dos pacientes com o prognóstico da doença.
“Nunca tinha pensado que seria possível exercer a medicina com a limitação de não realizar o exame físico presencial. Embora, de fato, haja limitação em muitos casos, ainda assim é possível diagnosticar e orientar os pacientes de maneira adequada, principalmente hoje em dia, com a certificação digital das receitas, atestados e solicitações de exame. Desta forma, minha sensação é de missão cumprida. Assumimos essa responsabilidade enorme de levar orientações médicas de qualidade, fundamentadas na ciência e adequadas ao contexto de cada paciente. Em um momento em que a população leiga é bombardeada por todos os lados com estímulo à automedicação ou ao uso de medicações sem benefício no prognóstico da doença, é fundamental esclarecer a todos o que pode ou não ser feito”, lembra o médico (foto abaixo).
Formação - Lorena Slusarz Nogueira é outra bolsista do projeto. A acadêmica do último ano de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) cumpre a tarefa de fazer os acompanhamentos dos pacientes, depois da consulta com o médico, desde abril do ano passado. É o serviço de monitoramento, realizado por enfermeiros e acadêmicos dos anos finais de medicina e de enfermagem. Isso possibilita uma assistência continuada durante a evolução da doença, a auxiliar na detecção de possíveis sinais de gravidade, a esclarecer dúvidas, além de servir como um ponto de apoio emocional, já que muitos pacientes encontram-se bastante fragilizados.
“Já realizei cerca de 200 atendimentos, só nesta segunda fase do projeto. A maior parte dos pacientes procura o serviço porque está com sintomas gripais. Porém, também somos procurados por pacientes já com diagnóstico confirmado e por pessoas sem sintomas que tiveram contato com um caso positivo e querem saber como proceder. Recentemente, também, notei um aumento da procura de pacientes que tiveram a doença há semanas ou até há meses e continuam com sintomas residuais, como cansaço e dores no corpo”, informa a acadêmica.
Lorena Nogueira se diz grata por, ainda no papel de estudante, estar participando de forma tão ativa no enfrentamento da pandemia. “Fico verdadeiramente feliz por cada paciente, cada família que se cura e eu posso dar alta do monitoramento. Acredito que, a despeito da telessaúde ter se desenvolvido em caráter de urgência por causa da pandemia, trata-se de um caminho sem volta. Não acho, de maneira alguma, que a tecnologia consiga substituir o olho no olho, o toque, o exame físico. Porém, vejo que ela pode ser uma aliada importante no cuidado em saúde em outras áreas além da Covid-19, podendo servir como uma ferramenta de monitoramento de pacientes crônicos, de orientação e, até mesmo, de auxílio entre os profissionais de saúde.”
Apoio emocional - Carolina Franco de Oliveira Simeão é uma das psicólogas bolsistas que estão no Saúde Online PR, desde abril de 2020. Ela atuou na elaboração do protocolo de atendimento e gerenciamento das escalas e do cadastro dos voluntários do Projeto, que levam em consideração as principais queixas dos pacientes que buscam apoio psicológico no sistema: crises de ansiedade e pânico associadas a preocupações com o tempo em que vivemos; dificuldades financeiras; pessoas vivendo em isolamento há um ano; medo da doença; falta do convívio com pessoas que ama; entre outras reclamações.
Carolina (foto acima) conta que percebeu durante os atendimentos o quanto “é importante para as pessoas terem um local para serem ouvidas, compreendidas em seus medos, amparadas em sua dor e livre de julgamentos, isso é reparador para os pacientes. Acredito que este serviço é, sim, importante para a população”.
A psicóloga avalia que o atendimento médico é essencial para a população, ainda mais agora, em que é preciso evitar aglomerações e o cuidado que a enfermagem pode oferecer é igualmente fundamental. “Para completar, o acolhimento psicológico emergencial proporciona um pouco de alento em meio a tanta dor. E tudo isso foi pensado e executado em tempo recorde, o que precisa ser pontuado também. Certamente não demos e nem daremos conta de atender toda a demanda da sociedade. Essa não é a nossa pretensão. O que queremos e temos feito é a diferença na vida de cada pessoa que se apresenta em sua vulnerabilidade para nós. Continuaremos enquanto houver força em nós!”
A usuária – Lelian de Abreu, de 84 anos, e duas filhas, de 57 e 60, Ana e Stela, estavam com dúvidas sobre os primeiros sintomas da Covid-19. Como haviam tido contato com membros da família que testaram positivo, aguardavam ansiosas o aparecimento ou não de manifestações da doença. Receosas de ir ao atendimento do plano de saúde que possuem, seguiram o conselho de uma amiga: fizeram o cadastro no Saúde Online PR e marcaram uma consulta em nome da mãe.
Primeiramente, foram atendidas por um profissional da clínica geral, que cadastrou Lelian e as duas filhas em um mesmo procedimento. Durante a conversa, o médico ofereceu todas as informações necessárias sobre os sintomas da Covid e instruiu que fizessem o exame para confirmar a infecção. Os pedidos de exame foram encaminhados por e-mail, assim como outros papéis que confirmavam a consulta e determinavam a necessidade de afastamento social.
Com a solicitação do médico, foram ao Plano de Saúde que emitiu uma guia e permitiu a realização do exame da Covid-19. As três foram diagnosticadas com a doença no final de fevereiro e foram acompanhadas por uma acadêmica de medicina até a alta.
“Esse apoio foi fundamental, porque só saímos para fazer os exames. Como, graças a Deus, não tivemos complicações, fomos cuidadas em casa. Solicitei mais duas consultas com o clínico, e, após cada uma delas, a estudante de medicina mandava mensagem por e-mail, marcando sessões de acompanhamento. Aliás, foi ela que nos deu alta. E uma das minhas filhas ainda precisou de apoio psicológico. Segundo ela, foi de excelente qualidade. Só temos a agradecer a essa equipe que nos ajudou a passar por um dos momentos mais complicados da nossa vida, a eminência de problemas graves de saúde e até de morte”, disse a professora aposentada (foto acima, à esquerda), que mora em Maringá, e que lembrou que não houve problemas em utilizar a tecnologia de atendimento remoto.
A pró-reitora de Extensão e Cultura da UEM, Débora Sant’Ana, uma das responsáveis pelo envolvimento da UEM nesta ação de telessaúde, destacou que não gostaria de chamar atenção para o fato de que faz um ano que essa tecnologia existe no Paraná e está sendo utilizada para enfrentamento a pandemia. “Esperávamos que esse momento crítico já tivesse acabado. Mas, por outro lado, é confortante ouvir os relatos, registrar o crescimento profissional de todos os envolvidos, mas, especialmente, a satisfação e o agradecimento dos pacientes. A telessaúde certamente será uma ferramenta que vai permanecer após a pandemia, auxiliando em situações específicas, mas não substituindo o atendimento presencial. O sucesso deste projeto é uma prova disso”, concluiu a professora Débora (foto acima, à direita).