8BABD4FE 6293 403E AF81 CA1F75E8C784

Com aumento na participação feminina nos quadros diretivos e políticas de inserção e crescimento profissional de mulheres na ciência, UEM comemora Dia Internacional da Mulher. Mas reconhece que ainda há muito a avançar

Por diferentes olhares é perceptível que a presença de mulheres na sociedade, e em particular, no ambiente acadêmico que é o campo de atuação da UEM, está a conquistar espaço nos últimos tempos. Entretanto, dados estatísticos evidenciam que ainda há uma forte estrutura de desigualdade de gênero que se estende até a produção do conhecimento científico. No cenário mundial, de acordo com dados publicados recentemente pelo Instituto de Estatísticas da Unesco, menos de 30% das pessoas que trabalham com pesquisa são mulheres.

Na Universidade Estadual de Maringá o cenário tem contornos um pouco diferentes. Talvez você se lembre, já que foi amplamente divulgado, a UEM destacou-se em um ranking global de diversidade de gênero dentro de um levantamento organizado em 2019 pela Universidade de Leiden, na Holanda.

Em uma iniciativa pioneira, o instituto calculou a proporção de mulheres entre o número total de autores de trabalhos científicos, considerando as pesquisas publicadas no período de 2014 a 2017.

A UEM aparece como a segunda instituição no mundo com a maior proporção de mulheres pesquisadoras, tendo registrado no período mencionado 54,1% de trabalhos publicados com autoria feminina.

Rotina invisível

Ainda que os dados sejam dignos de nota não chancelam a redução da desigualdade de gênero no mundo da ciência. Linnyer Beatrys Ruiz Aylon, professora do Departamento de Informática da UEM, acredita que fazer ciência é sempre um pouco mais complicado para as mulheres que têm uma rotina invisível para além do mundo acadêmico, principalmente quando envolve a maternidade.

A despeito das barreiras, Linnyer tem construída uma sólida carreira acadêmica na área da microeletrônica que, segundo ela, é dominada quase que exclusivamente por homens. Além da docência na graduação e na pós-graduação, Linnyer está à frente do Grupo MannaTeam que se tornou a maior rede de pesquisa, ensino, extensão e inovação em internet das coisas, internet dos drones, robótica e educação 5.0 do Paraná.

Paralelamente, ela preside a Sociedade Brasileira de Microeletrônica, sendo a primeira mulher a assumir o cargo em 35 anos de existência da entidade. Em janeiro deste ano foi nomeada para integrar o Comitê da Área de Tecnologia da Informação, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

WhatsApp Image 2021 03 05 at 13.41.51
Linnyer e Daniela Flôr, membros do Manna Team, percorrem as escolas de ensino fundamental, médio e técnico com projetos de Educação 5.0.

Não bastasse sua trajetória pessoal inspiradora, Linnyer ainda se empenha em estimular a participação do público feminino nas áreas em que atua. O projeto Manna Academy cumpre este propósito e contempla diferentes ações de engajamento, incluindo apoio às estudantes de graduação e pós-graduação dos cursos de engenharia e computação como medida de enfrentamento à evasão universitária e incentivo ao crescimento profissional. Sob sua coordenação, o projeto ainda desenvolve atividades em escolas públicas e na comunidade com objetivo de atrair meninas para as áreas de STEAM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharias, Artes e Matemática).

Números e representatividade

Falando em termos numéricos, a presença feminina na UEM é grande: dos atuais 3.794 servidores, entre docentes e técnicos-administrativos, 50,26% são mulheres. A representatividade em cargos diretivos também é digno de nota. Não custa lembrar que a Universidade de Maringá foi a primeira entre as estaduais do Paraná a ter uma mulher como reitora.

Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação, Neusa Altoé foi reitora da UEM de 1998 a 2002 e vice-reitora em duas ocasiões. Sua gestão na reitoria foi marcada, principalmente, pela expansão da graduação com a criação de 20 cursos no início do ano 2000, ao romper com um jejum de doze anos e beneficiar os municípios de Umuarama, Cidade Gaúcha, Cianorte, Maringá e região.

2019 09 10 Professora Neusa Altoe 8548

Neusa Altoé foi a primeira mulher reitora no Paraná. Sua gestão foi marcada pela expansão dos cursos de graduação

Do passado para o presente, a representatividade feminina na UEM ganhou corpo também na última eleição para escolha dos diretores e diretores-adjuntos dos sete Centros de Ensino da instituição, cujos mandatos iniciaram em outubro do ano passado. Metade dos eleitos é do sexo feminino, o que representa um crescimento de quase 22% em relação a gestão anterior. Na chefia dos departamentos, as mulheres correspondem, atualmente, a pouco mais de 40%.

 Hospital Universitário

O Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM) também é dirigido, hoje, por uma mulher, a médica Elisabete Mitiko Kobayashi, que em 2019 foi eleita superintendente do hospital. As mulheres também são maioria no corpo diretivo do HUM: das seis diretorias, quatro são ocupadas por mulheres. Além da maioria dos servidores do hospital é do sexo feminino (61%), “o que é motivo de orgulho para nós”, evidencia Elisabete Kobayashi. Na equipe médica estão 105 mulheres atuando nas mais diversas especialidades e setores do hospital.

2021 01 20 Vacinacao Covid HUM 2229

A médica Elisabete Mitiko Kobayashi está à frente do HUM desde 2019

 Novas políticas

A comunidade universitária ainda tem presenciado, nos últimos anos, a inclusão de projetos e políticas que promovem a inserção e o crescimento profissional de mulheres. Serve de exemplo, o Comitê Mulheres na Ciência criado dentro do Centro de Tecnologia que engloba cursos com menor participação feminina.

Em dezembro de 2019, a partir de demanda deste Comitê, a UEM aprovou a inclusão do período de licença-maternidade no currículo das pesquisadoras da instituição, inclusive em situações de adoção. Com objetivo de tornar mais justo o acesso de mulheres às bolsas de iniciação científica e tecnológica ofertadas pela UEM, a medida prorroga em 12 meses o prazo para pontuação na avaliação curricular.

A professora Gislaine Camila Lapasini Leal, do Departamento de Engenharia de Produção da UEM, lembra que a idade reprodutiva feminina acaba coincidindo com o período de ascensão da carreira. “A licença-maternidade faz com que seja difícil competir com outros pesquisadores que continuaram produzindo nesse período, por isto a iniciativa é um grande avanço para a universidade”, destaca.

Engenharia de Produção1 Coordenadora Gislaine Camila Lapasini Leal
Gislaine Camila Lapasini Leal: “Uma universidade com tal prestígio e reconhecimento internacional precisa estar na vanguarda e lançar um olhar diferenciado nas discussões sobre maternidade e ciência”

Para o vice-reitor da UEM, Ricardo Dias Silva, a adoção de políticas institucionais voltadas ao incremento da participação femininas nos espaços acadêmicos é um desafio que merece ser empreendido. “Mas a luta vale a pena e deve contribuir para que a UEM se mantenha como uma referência acadêmica”. 

Camila Leal concorda sobre a necessidade de novas políticas para incentivar e apoiar a participação das mulheres na ciência. “Temos dados científicos que demonstram o impacto da licença-maternidade na carreira das mulheres na ciência e precisamos falar sobre isso para definir ações que permitam minimizar esse impacto em nossas carreiras”, opina Gislaine, que também é uma das embaixadoras da UEM do movimento Parent in Science, que tem como proposta levantar a discussão sobre maternidade e paternidade dentro do universo da ciência no Brasil, além de discutir o impacto dos filhos na carreira científica de mulheres e homens, em diferentes etapas da vida acadêmica. 

O movimento lançou recentemente o Programa Amanhã, visando complementar a renda de alunas mães regularmente matriculadas e que não possuem bolsas em cursos de mestrado e doutorado em Instituição de Ensino Superior no Brasil, garantindo a permanência destas nos cursos de pós-graduação, bem como a conclusão dos cursos.

 Mulheres que cuidam de mulheres

A Universidade também presta diferentes serviços às mulheres da comunidade externa. Entre os mais conhecidos está o Núcleo Maria da Penha (Numape) que desde 2016 auxilia, por meio de atendimento jurídico e psicossocial, mulheres que vivenciam ou vivenciaram alguma situação de violência doméstica, familiar ou de gênero.

Formado exclusivamente por mulheres, o Numape atende mensalmente por meio de acolhimento, orientação e encaminhamento especializado, cerca de 300 mulheres vulnerabilizadas pela violência.

O Hospital Universitário também conta com um serviço de atendimento às mulheres vítimas de violência. Contando com uma equipe multidisciplinar sensibilizada e capacitada para uma atenção empática às mulheres que procuram o HUM, o atendimento é pautado no respeito à dignidade da mulher, primando pela credibilidade de sua fala e possibilitando todas as alternativas possíveis para a realização da assistência.

 Pesquisas inovadoras       

Para além da assistência, o foco na saúde da mulher se traduz também na pesquisa. Muitos dos estudos que são desenvolvidos hoje na UEM apresentam este recorte. Apenas para citar um deles, destacamos o projeto desenvolvido pela professora Marcia Edilaine Lopes Consolaro, do Programa de Pós-Graduação em Biociências e Fisiopatologia, ligado à prevenção ao câncer de colo de útero.

A abrangência e caráter inovador do trabalho gerou um convite do Ministério da Saúde para que ela coordene um projeto piloto multicêntrico de abrangência nacional nesta área, a ser desenvolvido nas cinco regiões do país.

image 6483441

A cientista Marcia Edilaine Lopes Consolaro desenvolve diversos estudos ligados à saúde. Atua em projetos sobre a Covid-19, dengue e a Zika

 A proposta é comparar a viabilidade de duas modalidades de rastreio do câncer de colo do útero (exame de Papanicolau agendado na rede pública de saúde e autocoleta/teste de HPV) em mulheres que não tenham sido submetidas ao exame nos últimos quatro anos ou mais.

A perspectiva é que os dados gerados pelo levantamento embasem uma possível implantação da autocoleta/teste de HPV como política pública para a prevenção do câncer de colo de útero.

“A autocoleta é uma opção viável e muito promissora como novo método de triagem para o câncer de colo uterino, uma substituição ao Papanicolau”, explica Consolaro.

 Mulheres negras

Com a proposta de dar visibilidade ao trabalho, à atuação, às trajetórias das mulheres negras, o Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros (Neiab) da UEM promove a cada ano o Colóquio Feminismo Negro.

 

2019 03 08 Dia da Mulher homenagem a 11 mulhers PEC HUM MG 2177

Marivânia Araújo durante o evento Mulheres que defendem Mulheres, em 2019, no qual foi homenageada.

“Além dos debates, que são enriquecedores e reúne mulheres negras, pesquisadoras e intelectuais de diferentes áreas do conhecimento da nossa região e de outros estados e universidades, a organização do colóquio escolhe uma mulher negra que, de alguma forma, faz diferença na sociedade, para ser homenageada”, explica a coordenadora do Neiab, Marivânia Araújo, destacando que a homenagem também ajuda a chamar atenção da sociedade para a forma com que a população negra é tratada, principalmente pelo Estado, na periferias.