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Associação dos Universitários Indígenas busca integração entre índios e não índios; veja fotos da Auind aqui 

Parte dos membros da Associação dos Universitários Indígenas (Auind) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) enxerga o Dia do Índio como uma data de resistência, não de comemoração. Para eles, o 19 de Abril serve para relembrar as lutas que seus antepassados travaram para conquistar demarcação de terras. Acreditam que a Semana do Índio também é importante, pois ajuda a difundir a cultura indígena, principalmente em escolas de educação básica.

A Auind completará um ano de existência daqui a uma semana, 26 de abril. Este é um momento de consolidação da instituição, atualmente com 53 associados. Dez deles participaram de entrevista, realizada no Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História (Laee), Bloco G-45 da UEM, para expor seus pensamentos sobre o papel dos índios na sociedade urbanizada e no ensino superior, onde estão cada vez mais inseridos, formando médicos, pedagogos e tantos outros profissionais.

Arieli Knop, 26, índia Kaingang da aldeia Mangueirinha, da cidade de mesmo nome no Paraná, e Géssica Nunes, 28, índia Guarani da aldeia Pinhalzinho, de Tomazina (PR), cursam o 4º ano de Letras. Para Knop, ser universitária “representa uma conquista, além de pessoal, para a comunidade”, uma vez que os índios formados tendem a retornar a seus lares, de modo a beneficiar seus semelhantes. “Tenho desejo de mudança na educação escolar indígena da minha terra, fortalecê-la. Com a graduação concluída, vou conseguir atuar na sala de aula e ajudar os alunos em Língua Portuguesa junto à Indígena”, sonha a Kaingang.

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Quando se formar em Letras, Arieli Knop quer retornar à aldeia Mangueirinha e lecionar línguas

 

Além de Knop, são índios Kaingang: Alexia Kuitá, 19, aluna do 1º ano de Psicologia, e Fábio Sukág Santiago, 22, estudante do 4º ano de Arquitetura e Urbanismo, ambos da aldeia Apucaraninha, em Tamarana (PR); Nosá Ferreira Juvêncio, 31, aluno do 5º ano de Educação Física, proveniente da aldeia Barão de Antonina, em São Jerônimo da Serra (PR); e Priscila Pinheiro, 19, do 1º ano de Psicologia e da aldeia Alto Pinhal, em Clevelândia (PR).

Juvêncio veio transferido da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) porque gostou mais da grade curricular da UEM. A mudança é comum muitas vezes por outro motivo: quando o índio não adapta-se ao local. Processo semelhante ocorreu com Alciléia Miriã Claro, 20, que mudou de Medicina para Enfermagem, e com Clemilson Marcolino, 28, que migrou de Direito para História. “No âmbito da UEM, a estrutura é muito boa! Estou entrando no mundo da pesquisa”, conta Juvêncio, que observa pouquíssimos artigos científicos com abordagem da temática indígena, e menos ainda os que levam contribuição direta e prática aos índios. E é isso que ele quer: levar ciência a seu povo. “Minha intenção sempre foi de levar o melhor conhecimento para as reservas indígenas. O objetivo da educação é transformar o aluno num bom cidadão”, raciocina o futuro educador físico.

Índio Guarani da aldeia Araritá, de Bauru (SP), Clemilson é estudante do 1º ano de História. “Minha transição de São Paulo para o Paraná trouxe algo diferente, porque em São Paulo não há muita vivência na sociedade de fora, com os não índios, por as reservas serem mais distantes e não existir vínculo permanente na cidade. Aqui no Paraná, o indígena é visto em todos os locais”. A vontade de lutar por objetivos e por seus pares é o que mais faz esse Guarani ter orgulho de ser índio.

Clemilson é casado com a Kaingang Nunes, com quem têm três filhos. O primo dele, Claudinei Marcolino, 30, está no 1º ano de Pedagogia e também é Guarani, mas vem da aldeia Laranjinha, de Santa Amélia (PR). Outros da etnia Guarani no grupo são: Lorivan Gabriel, 21, originário da reserva Bom Jesus, em Antonina (PR), e acadêmico do 1º ano de Odontologia; e Alciléia, do 1º ano de Enfermagem e natural da aldeia Araçá-i, em Piraquara (PR).

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Nosá Ferreira Juvêncio acredita que “educação transforma aluno num bom cidadão”

 

O preconceito persiste

Os indígenas entrevistados pela reportagem acreditam que ainda falta bastante informação acerca da cultura do índio para que muitos brancos, pardos, pretos e amarelos os aceitem ao seu redor. Até que essa lacuna não seja preenchida, o preconceito dá as caras. Relatam que são vistos como baderneiros e uma população com privilégios demais, e ora como selvagens, ora como pessoas que não podem andar vestidas nem ter um celular. Outro espanto é quando os não indígenas descobrem que vários índios, a exemplo dos acadêmicos da UEM, falam português fluentemente. Mais um ponto de discussão para os membros da Auind é a apropriação cultural indevida. No carnaval, o uso de cocar, a pintura corporal – considerada sagrada – e “fantasiar-se” de índio são motivos de incômodo, uma vez que nem todo folião compreende a cultura indígena, usando-o a apenas para fins de entretenimento, “cheia de estereótipos e com forte apelo sexual”.

Suporte aos estudantes

Os universitários indígenas das universidades estaduais do Paraná (UEM inclusa) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) recebem apoio, desde antes do vestibular até a formatura, passando pela permanência, da Comissão Universidade para Índios (Cuia). Saiba mais sobre ela nesta página.