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Atividades dão vida ao espaço de hemoterapia e oncopediatria

Você sabe o que é educação social? Pois essa reportagem vai lhe ajudar a conhecer essa forma de abordagem da comunidade. Há um exemplo que ilustra bem e que vem acontecendo no Hemocentro Regional de Maringá, um setor ligado ao Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). A responsável pelo Projeto Educação Social em Saúde é a professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ercília de Paula (foto abaixo).

Segundo a professora da graduação em Pedagogia e da pós-graduação em Educação da UEM, a educação social é uma área ainda recente no Brasil. “Nós temos muitos educadores sociais que estão lutando pelo reconhecimento dessa profissão, nosso trabalho é atuar com as crianças em práticas que vão além das questões lúdicas e educacionais, nós também discutimos os direitos dessas crianças”, explicou a docente.

Ercília acrescentou que é ligada ao PCA, o Programa de Estudos Disciplinares dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes da UEM que, há anos, vem pesquisando a pedagogia social e educação social. Segundo ela, os educadores sociais trabalham a criança na sua integralidade.  No Hemocentro, por exemplo, meninos e meninas são atendidos na área da saúde. Muitos vêm de outras cidades, alguns precisam fazer transfusão de sangue e chegam a passar o dia todo dentro de uma sala. Esse período é muito cansativo, exaustivo e, como toda criança tem o direito à brincadeira, o projeto da professora faz tudo para garantir a essa garotada algumas horas de entretenimento e, às vezes, de atendimento pedagógico e, como propõe o projeto, apoio social.

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“Faz dois anos que atuamos aqui. Nossa proposta é utilizar as atividades lúdicas para discutir os direitos das crianças e dos adolescentes. Aqui vemos casos de hemofilia, leucemia, púrpura… Eu não conhecia essas patologias [doenças] e, durante o projeto, eu aprendi muito. Especialmente, que muitas dessas crianças não podem brincar de tudo, porque elas têm dificuldade de coagulação do sangue. Assim, da mesma maneira que nós ensinamos, brincamos, discutimos questões com a garotada, as crianças nos mostram suas dificuldades, suas formas de vida, outras maneiras de brincar e muito mais. Nós aprendemos com elas também e tentamos achar saídas para as suas dificuldades”, explicou a professora Ercília.

A docente lembrou que a experiência levou o projeto a desenvolver brincadeiras adaptadas, que foram construídas junto com os pacientes do Hemocentro, com as enfermeiras, os médicos, os servidores técnicos, que também interagem com os integrantes do projeto. Essas novas possibilidades de entretenimento, disse Ercília, encorajam e animam as crianças que são, por exemplo, excluídas das aulas de educação física.

“Os professores e as escolas desconhecem essas patologias e têm medo da criança sofrer alguma lesão. Enfim, educação social é isso, promover um ambiente em que se possa pensar os direitos dos diferentes grupos, a partir da realidade cotidiana dos indivíduos que fazem parte dele numa troca constantes de informações. E o mais legal é que utilizamos estas informações para gerar conhecimento. Neste momento, há duas pesquisas de mestrado sendo realizadas aqui: uma sobre o bullying com as crianças hemofílicas na escola e as dificuldades das crianças talassêmicas [doença hereditária que se caracteriza pela redução do número de glóbulos vermelhos] na escola, também. Isso poderá, no futuro, ajudar na formação dos professores”, destacou a professora.

A dinâmica - As atividades do projeto Educação Social na Saúde são realizadas nas terças e quartas-feiras. Estudantes de pós graduação da Educação, estudantes de graduação em Educação Física, Pedagogia e Artes, além de bolsistas de extensão, atuam no projeto, que possui uma sala no Hemocentro, exatamente no prédio novo, onde funcionará, em breve, também, o setor de oncopediatria.

“Num momento inicial, fazemos a apresentação das crianças. Temos uma bolinha que passa na roda de conversa e fazemos uma preparação que nós chamamos de aquecimento para essas crianças irem se soltando, porque alguns chegam muito tímidos, não sabem quem nós somos. Depois, sugerimos brincadeiras tradicionais: batata quente, escravos de Jó, karaokê, músicas. O resultado de tudo isso? As crianças só querem vir aqui quando nós estamos”, se diverte a professora.

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Ela e sua equipe não medem esforços para alegrar a garotada. Quando alguns pacientes não podem ir até a salinha dedicada ao projeto, a turma de educadores sociais vai até o ambulatório, à sala de transfusão de sangue, enfim, vai onde o paciente está. “Já vi o pessoal do projeto contar história ao pé da cama e, também, pacientes ficarem zangados quando chegam aqui e não encontram os alunos e estagiários. Eles não se sentem tão à vontade com a gente, vestidas de branco e que fazemos os procedimentos que, às vezes, são doloridos. Mas se soltam quando o pessoal do projeto chega. Acho que essa iniciativa é muito importante para amenizar o sofrimento dessa garotada. A gente fica super feliz”, declarou a enfermeira do ambulatório do Hemocentro, Neuzilene de Cássia (foto acima).

A professora Ercília lembra que as enfermeiras e todas as pessoas da equipe do Hemocentro são muito atenciosas. Fazem parte de um grupo bem pequeno que atende vários pacientes e que cria uma relação até familiar, porque mantém contato com essas crianças por anos. “Nós acompanhamos o crescimento delas, fazemos festa de Natal, de Páscoa. As comemorações são muito bonitas, são como se fossem rituais para nós. Enfim, isso marca a importância do lúdico neste ambiente da saúde, porque muda um pouco do caráter do processo invasivo. Essas crianças vivem uma infância muito dura, sempre indo ao médico, lidando com agulha. A gente faz tudo para amenizar isso, fazer com que elas sejam crianças e vivam a infância de uma forma plena”, disse a professora.

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E o projeto parece que está dando certo. Erick Gustavo Gomes (foto acima), de 9 anos, frequenta o Hemocentro desde que nasceu. Ele disse: “gosto muito das tardes com brincadeira, porque eu fico aqui o dia todo. Gosto mais de brincar de batata-quente”, anunciou o paciente do Hemocentro. Ele estava ao lado da integrante do projeto, Giane Buoso, aluna do curso de Educação Física da UEM, que atua no grupo desde o início, em 2015. “É um aprendizado enorme. Conhecendo os problemas que estas crianças enfrentam também me preparo melhor para a minha profissão, desenvolvendo novas formas de brincadeiras e exercícios físicos, que possam atender às necessidades deste grupo que tem muitas limitações”, disse a estudante.

Para entrar em contato com o Projeto Educação Social em Saúde, o caminho é procurar o PCA (Programa Multidisciplinar de Estudos da Criança e do Adolescente), que funciona na Biblioteca Central da UEM, no 1° andar, ou entrar em contato com a professora Ercília, pelo e-mail é erciliapaula@terra.com.br.

 

 Reportagem produzida em parceria com a residente em Jornalismo da ASC/UEM, Débora Arcanjo.

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