Um grupo de cientistas do Brasil, EUA, Alemanha, Canadá e Camboja publicaram, no último dia 8, um artigo na Revista Science no qual apontam que a construção de usinas hidrelétricas está colocando sob ameaça três bacias hidrográficas que são as mais ricas em biodiversidade em todo o mundo. O estudo, que teve a participação de pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá, entre eles o professor Ângelo Antonio Agostinho, mostra o impacto das barragens construídas nas bacias hidrográficas da Amazônia, do Congo (África) e de Mekong (no sudeste asiático).

Demonstrando preocupação com a ocupação sem planejamento dessas áreas, o trabalho defende que a construção de hidroelétricas se dê a partir de estudos científicos que levantem o impacto da obra na biodiversidade. Agostinho, que é pesquisador do Nupélia (Núcleo de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e Aquicultura), diz que a comunidade científica vem chamando a atenção dos órgãos ambientais nesse sentido, visando a preservação de espécies. “Nosso objetivo básico é que a ocupação das bacias seja feita de maneira planejada, levando em consideração que alguns trechos devem ficar livres de barragens”, diz o pesquisador da UEM.

Em entrevista à Folha de São Paulo, Kirk Winemiller, líder do estudo e especialista em vida selvagem e peixes da Universidade do Texas, salientou que “as espécies de peixes não estão uniformemente distribuídas ao longo destas bacias. Muitas sub-bacias e afluentes têm espécies únicas que não são encontradas em nenhum outro lugar”, explica

Winemiller diz, ainda em entrevista à Folha, que um exemplo disso, está aqui no Brasil, no rio Xingu, afluente do Amazonas. “Há dezenas de espécies de peixes que só existem ali”, diz o pesquisador.

O problema é que boa parte dos peixes migra conforme a vazante dos rios. Com as barragens, eles podem ficar pelo caminho. E pelo menos 450 barragens ainda devem ser construídas nas usinas dessas três bacias, segundo aponta o estudo.

Ângelo Agostinho explica que Winemiller tem um projeto em conjunto com pesquisadores da UEM, além de ser professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (PEA). A partir dessa experiência, nasceu a proposta de produzir o trabalho publicado na “Science”, segundo informou Agostinho.

Para o pesquisador da UEM, o impacto da publicação vem ganhando grandes proporções, o que deve contribuir para chamar a atenção das autoridades locais sobre o problema. No Brasil, o foco é sobre a construção da usina Belo Monte, que está sendo erguida em Altamira, no Pará.

De acordo com o trabalho da “Science”, Belo Monte pode estabelecer um recorde mundial de perda de biodiversidade. Isso porque há um número excepcional de espécies que só vive ali.

O trabalho também leva a assinatura de dois outros pesquisadores do Nupélia: Luiz Carlos Gomes e Carla Pavanelli e do ex-aluno do PEA, Fernando Pelicice.