A Universidade Estadual de Maringá teve mais duas patentes concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) neste ano. Até o momento, são quatro ao todo. A terceira carta patente da UEM foi concedida à invenção Processo de Obtenção de Farinha a Partir de Carcaça de Peixes, cujo projeto foi coordenado pela professora Maria Luiza Rodrigues de Souza, do Departamento de Zootecnia. A outra, denominada Processo para Descoloração de Corante Reativo por meio de Ação de Agente Microbiológico, foi coordenado pela professora Célia Regina Granhen Tavares, do Departamento de Engenharia Química. A patente garante a proteção das invenções por 20 anos após sua concessão. Findo esse prazo, o uso fica de domínio público. A patente de Souza foi deferida no dia 8 de janeiro deste ano; e a de Tavares, em 2 de julho deste ano. O reitor Júlio Santiago Prates e a vice-reitora Neusa Altoé entregaram às coordenadoras das pesquisas os documentos recebidos do Inpi, nesta segunda-feira, dia 12.


A pesquisa desenvolvida pelo grupo de Souza possibilitou a utilização de carcaça de peixe na fabricação de uma farinha mais nutritiva, que pode ser usada no preparo de diversos pratos. Uma das grandes vantagens, segundo a professora, é inserir os benefícios do peixe no cardápio de crianças, normalmente arredias ao consumo desses pratos. Explicou que, em pesquisa com esse público, verificou-se a boa aceitação de petiscos feitos com a farinha de peixe. Diz ainda que outro público beneficiado é o de idosos, que encontram dificuldades nas espinhas dos pescados.

A farinha pode ser utilizada em biscoitos, salgadinhos de milho (snacks ou chips), bolos, macarrão, pães de mel, bolachas entre outras iguarias. A adição de uma pequena quantidade da farinha de peixe enriquece o alimento com cálcio, fósforo, ferro, proteínas, e especialmente o ácido graxo ômega 3. Além de Souza, o grupo de pesquisa é composto pelos professores Jesui Visentainer, Antonio Monteiro, Jane Mikcha, Edna Oliveira, Eliane Gasparin e acadêmicos.

O grupo de Tavares desenvolveu um processo utilizando fungo para descoloração de corante reativo, encontrado em efluentes têxteis, como lavanderias. Esses resíduos passam por tratamentos convencionais que geram uma grande quantidade de lodo que precisa de tratamento. A descoberta da UEM promove muitos benefícios não só aos que se utilizam do corante como também à natureza, pois os resíduos são tratados com agente biológico encontrado na natureza e que produz menos lodo.  

Tavares lembra que o tratamento dos resíduos descoberto pela UEM é feito somente com o fungo, gerando economia por não usar tantos reagentes químicos e produzindo lodo biodegradável, que pode, inclusive, ser utilizado para adubação de plantas. Também participaram da pesquisa a professora Sandra Maria Gomes da Costa, do Departamento de Biologia, a então doutoranda em Engenharia Química e agora integrante da Esfera Ambiental, Alessandra Zacarias dos Santos, e o então aluno de Iniciação Científica de Engenharia Química e agora mestre em Engenharia Química, José Maximiano Cândido Neto.  

O feito também foi comemorado pela diretora de Pesquisa da UEM, Valéria Domingos Cavalcanti. Ela destaca que essa conquista ilustra o que vem sendo chamado de inovação, o assunto do momento. No entanto, é preciso lembrar que essas conquistas são fruto de muitos anos de trabalho, de integração de pesquisadores dos mais diferentes níveis, desde a iniciação científica até pesquisadores de reconhecimento pelo CNPq, que atuaram de forma multidisciplinar. “É desta forma que a UEM vem vencendo os desafios de estar fora do eixo Rio/São Paulo. Nosso potencial humano tem algo de especial que se reflete em conquistas como essas patentes e reforça a vocação da UEM em trabalhar arduamente para contribuir de forma relevante para a sociedade”, acrescenta Valéria Cavalcanti.  

O reitor Júlio Santiago Prates Filho disse que o número de depósito de patentes feitos pela UEM, nestes 43 anos, mostra o grau de inserção tecnológica da instituição no desenvolvimento do Paraná. Segundo ele, as duas novas patentes concedidas à Universidade vêm colocar todo o conhecimento gerado na Universidade a serviço do bem estar da população. A UEM já teve 77 depósitos de patentes registrados, incluindo as quatro patentes concedidas. Além das duas citadas acima, outras duas patentes também foram concedidas anteriormente, sendo a primeira para o estudo Processo de Fracionamento dos Componentes das Folhas da Stevia Rebaudiana (Bert.) Bertoni, em janeiro de 1989; e outra para o Desenvolvimento de Vidros Especiais para a Construção de Lasers Visando Aplicação na Área Biomédica, em Cirurgias, concedida em 2007.  

A primeira pesquisa, desenvolvida pelos pesquisadores Mauro Alvarez e Amaury César Cruz Couto, fez com que a UEM se tornasse pioneira, no Brasil, nos estudos tecnológicos de adoçantes a base de Stevia rebaudiana, planta nativa da região fronteiriça entre o Brasil e o Paraguai. As propriedades adoçantes dessa planta se devem às substâncias presentes nas folhas, denominadas de glicosídeos, entre os quais o Esteviosídeo e o Rebaudiosídeo A, são os mais importantes. O Núcleo de Estudos de Produtos Naturais (Nepron) desenvolveu uma pesquisa, há alguns anos, com o objetivo de selecionar plantas com alto teor de Rebaudiosídeo A. Trata-se de um componente mais doce, mais solúvel e que apresenta o menor residual amargo, sendo, portanto, o produto da estévia de maior interesse para as indústrias de produtos dietéticos.  

O segundo estudo diz respeito a um vidro especial que transmite a radiação infravermelha em comprimentos de ondas capaz de cortar a pele é resultado de uma pesquisa desenvolvida pelo professor de Física Mauro Baesso. O foco da pesquisa é o desenvolvimento de vidros especiais para a construção de lasers visando à aplicação na área biomédica, em cirurgias. A descoberta abre possibilidades para obtenção de lasers de baixo custo e mais adequados para estas aplicações porque podem emitir feixes em comprimentos de onda da luz que são absorvidos pelos tecidos biológicos.