Professora Fabíola Castelo de Souza Cordovil e Jeanne Christine Versari

O Novo Centro de Maringá seria uma praça modernista de uso público e edifícios arrojados se o Projeto Ágora, do arquiteto Oscar Niemeyer, encomendado nos anos 1980, tivesse ido adiante. A estudante da UEM, Jeanne Christine Versari, estudou as duas versões do projeto, de 1986 e 1991. Seu artigo de iniciação científica ganhou menção honrosa da Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (Fenea), em agosto deste ano. O estudo foi destaque em uma matéria do jornalista Carlos Henrique Braga, publicada na edição de setembro do Jornal da UEM. Para homenagear maior nome da arquitetura brasileira, reproduzimos a matéria aqui no site.

A concepção inicial do projeto foi encomendada a Niemeyer pelo prefeito Said Ferreira (1983-1988), em 1986, para reocupar o espaço de três glebas, medindo cerca de 200 mil metros quadrados, que fora pátio de manobra de trens e estação ferroviária.
Ele propôs uma ágora (praça, em grego) futurista com torres para hotéis de luxo e condomínio, escritórios, lojas e shopping. “Era um projeto absolutamente modernista”, qualifica a coordenadora do trabalho, a professora Fabíola Castelo de Souza.  “Em relação à cidade, seria muito distinto”. Para erguer o que foi imaginado pelo criador de Brasília, a prefeitura criou a Urbamar, empresa de economia mista.

“A imagem anunciada pela gestão municipal procurava reforçar a ideia de modernidade que seria imposta por meio de um projeto para a área central, o qual possibilitaria o progresso e o desenvolvimento econômico da cidade”, traz o artigo O Projeto Ágora: proposta de Niemeyer para a primeira reestruturação da área central de Maringá, Paraná, co-orientado pelo professor Aníbal Verri Júnior.

Grande demais

De tão inovador, o projeto “não coube’ na Maringá da época. Talvez, não estivesse nos planos da prefeitura tirá-lo do papel. “O Ágora era uma grande peça de marketing, saia muito caro construí-lo”, diz a professora Fabíola.

De concreto, só o rebaixamento da linha férrea, que tornou possível ligar o norte e o sul da cidade, e a maquete guardada na prefeitura. Os lotes foram vendidos e o dinheiro usado na abertura das avenidas Duque de Caxias e Herval, como parte da adaptação do plano, em 1991, na gestão de Ricardo Barros (1989-1992). Dois anos depois, o projeto é rebatizado como Novo Centro e não sobra nada do traço de Niemeyer.

Para a professora, é mais um exemplo de projeto grandioso que surpreende pelo tamanho e acaba encalhado. “A gente tem uma crítica a esses grandes projetos, que encantam as pessoas, mas depois a gente só vê uma transferência de áreas para o patrimônio privado”, analisa Fabíola. Esse tipo de manobra do poder público, acredita, favorece a especulação imobiliária. “No final, não se faz nada para o uso público”.

Na análise de Jeanne, que disputou a menção honrosa da Fenea com outros nove artigos, apesar de o projeto de Niemeyer não se integrar à cidade, Maringá perdeu “uma grande oportunidade de usar esse espaço público”, que ainda continua parcialmente desocupado.

O trabalho foi exposto no 36º Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura, em Salvador (BA). Para escrever o artigo, Jeanne pesquisou acervos públicos, como os do Museu da Bacia do Paraná, notícias da época, recortes de revistas e fotografias. Nessa garimpagem, ela se deparou com uma entrevista do criador do Ágora à Revista Tradição, em 1987. “Nossa preocupação”, disse Niemeyer à publicação, “ao projetar essa grandiosa área no centro de Maringá foi, antes de tudo, criar um novo espaço verde, humanizando, fazendo a cidade respirar melhor”.

A estudante teve a bolsa renovada pelo CNPq e Fundação Araucária, por mais um ano, e vai continuar debruçada sobre o sonho de Niemeyer.